O Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) sempre foi motivo de debate no Brasil. Afinal, ele incide diretamente sobre o salário do trabalhador, a aposentadoria do idoso e até sobre alguns tipos de investimentos. Por anos, a tabela permaneceu congelada, sem acompanhar a inflação. Isso fez com que milhões de brasileiros de baixa e média renda fossem puxados para dentro da base de contribuintes, mesmo recebendo salários que mal cobrem o custo de vida.
Em 2025, finalmente, uma mudança histórica ocorreu: a Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade um projeto de lei que amplia a faixa de isenção do IRPF para quem recebe até R$ 5.000 por mês. A medida ainda passará pelo Senado e deve entrar em vigor a partir de 2026, mas já é considerada uma das maiores reformas recentes do sistema de tributação da renda no Brasil.
Neste artigo, você vai entender:
- Como funciona o Imposto de Renda e por que ele pesa tanto no bolso do brasileiro.
- O histórico da tabela do IR e sua defasagem ao longo dos anos.
- O que muda com a nova faixa de isenção até R$ 5 mil.
- Simulações práticas de quanto você economiza.
- Impactos para trabalhadores, aposentados, governo e economia.
- Como a União vai compensar a perda de arrecadação.
- Comparações internacionais.
- Guia prático para declarar o imposto dentro da nova regra.
- Perguntas frequentes respondidas de forma simples.
Prepare-se: este é um guia completo que vai responder tudo o que você precisa saber sobre a nova isenção de Imposto de Renda até R$ 5 mil.
1. O que é o Imposto de Renda e por que ele pesa tanto no Brasil
O Imposto de Renda da Pessoa Física é um tributo progressivo. Isso significa que quem ganha mais, paga proporcionalmente mais imposto. A lógica é simples: as alíquotas variam de 7,5% até 27,5% e são aplicadas de acordo com a faixa salarial do contribuinte.
Na prática, o cálculo pode parecer confuso. O governo define faixas de isenção e tributação. Por exemplo, até certo limite mensal, o contribuinte não paga nada. A partir dali, vai pagando percentuais sobre a parcela que ultrapassa o limite.
Por que ele pesa tanto?
O problema é que a tabela do IR ficou defasada. Sem correções integrais desde 2015, a inflação corroeu os limites. Resultado: pessoas com salários relativamente baixos passaram a pagar imposto, enquanto os mais ricos continuavam se beneficiando de brechas — como a isenção de lucros e dividendos.
Assim, trabalhadores que ganham 3 ou 4 salários mínimos já viam descontos consideráveis em seus contracheques. Isso gerou um forte sentimento de injustiça fiscal.
2. Linha do tempo da tabela do IRPF: como chegamos até aqui
1996: início da longa defasagem
Desde meados da década de 1990, a tabela do IR começou a apresentar problemas de atualização.
2015: último reajuste significativo
Em 2015, o governo Dilma Rousseff promoveu um reajuste linear, mas desde então a tabela ficou congelada.
2023: primeiros ajustes no governo Lula
No primeiro ano do atual governo, a faixa de isenção subiu para R$ 2.640, equivalente a dois salários mínimos.
2024: aumento gradual
A isenção efetiva subiu para cerca de R$ 3.060 mensais, mas ainda insuficiente para corrigir a defasagem acumulada.
2025: virada de chave
Em outubro, a Câmara aprovou a ampliação para R$ 5.000 mensais, atendendo a uma promessa de campanha.
Curiosidade: estudos mostraram que a defasagem da tabela desde 1996 chegava a quase 150%. Se a tabela tivesse sido corrigida integralmente pela inflação, a faixa de isenção estaria próxima a R$ 5.000 — exatamente o novo limite.
3. O que muda com a nova isenção até R$ 5 mil

A partir de 2026, se o Senado confirmar a aprovação, teremos:
- Isenção total até R$ 5.000/mês.
- Isenção parcial entre R$ 5.001 e R$ 7.350.
- Tributação normal acima disso (alíquotas progressivas).
Simulações práticas
Salário Bruto Mensal | IR Anual Antes (aprox.) | IR Anual Agora | Economia |
---|---|---|---|
R$ 3.500 | R$ 1.000 | R$ 0 | R$ 1.000 |
R$ 4.000 | R$ 1.740 | R$ 0 | R$ 1.740 |
R$ 4.500 | R$ 2.900 | R$ 0 | R$ 2.900 |
R$ 5.000 | R$ 4.357 | R$ 0 | R$ 4.357 |
R$ 6.000 | R$ 6.800 | R$ ~3.400 | R$ 3.400 |
R$ 7.000 | R$ 9.400 | R$ ~7.050 | R$ 2.350 |
Valores aproximados, considerando 13 salários, sem dependentes.
Na prática, quem ganha até R$ 5 mil vai zerar o imposto, enquanto quem ganha até R$ 7.350 terá descontos proporcionais.
4. Impacto para trabalhadores

- Salário líquido maior: mais dinheiro no contracheque todo mês.
- Consumo aquecido: famílias terão renda extra para gastar em alimentação, saúde, lazer e dívidas.
- Justiça social: diminui o peso do imposto sobre a renda do trabalho e aumenta a progressividade.
5. Impacto para aposentados e pensionistas
Antes, aposentados só tinham isenção até R$ 3.060. Agora, até R$ 5.000 estarão livres do IR.
Isso significa que praticamente todos os 22 milhões de segurados do INSS não terão imposto descontado, já que a maioria recebe até 2 ou 3 salários mínimos.
Para quem ganha entre R$ 5.000 e R$ 7.350, o desconto será parcial. Apenas uma minoria, que recebe acima do teto previdenciário (R$ 8.157), continuará pagando normalmente.
6. Como o governo vai compensar a renúncia fiscal
A medida tem custo estimado de R$ 25 bilhões por ano. Para equilibrar as contas:
- Tributação mínima de 10% para rendas acima de R$ 600 mil anuais.
- Taxa de 10% sobre dividendos enviados ao exterior.
Essas medidas atingem menos de 0,2% dos contribuintes, mas devem arrecadar R$ 34 bilhões, cobrindo a renúncia e até gerando superávit.
7. Efeitos econômicos e sociais
- Positivos:
- Mais renda disponível.
- Estímulo ao consumo.
- Redução da desigualdade.
- Críticas:
- Possível fuga de capitais por parte de super-ricos.
- Risco de elisão fiscal.
- Dependência de compensações futuras.
8. Comparação internacional
- EUA: isenção varia conforme estado civil; casais só pagam IR acima de US$ 27 mil anuais (~R$ 11 mil/mês).
- França: sistema mais complexo, mas grande parte da população paga pouco ou nada.
- Chile: isenção próxima a R$ 3.500.
- Argentina: faixa de isenção gira em torno de R$ 4.200.
Com a nova regra, o Brasil se aproxima de padrões internacionais.
9. Guia prático para o contribuinte
- Quando começa: janeiro de 2026.
- O que fazer: nada. A fonte pagadora (empresa ou INSS) deixará de reter o imposto automaticamente.
- Na declaração: em 2027, quem tiver até R$ 60 mil anuais de rendimentos do trabalho pode nem precisar declarar, a menos que se enquadre em outras regras (posse de bens, ganhos de capital, etc.).
Perguntas Frequentes (FAQ
1. Preciso pedir a isenção?
Não. Ela será automática.
2. Tenho dois empregos que somam R$ 5.500. Vou pagar imposto?
Sim, sobre o valor que exceder R$ 5.000, mas com desconto parcial.
3. Sou MEI, como fica?
Nada muda. O MEI continua recolhendo tributo pelo Simples Nacional, não pelo IRPF.
4. Vai ter correção automática da tabela?
O projeto prevê que o governo apresente uma política permanente de reajuste da tabela, mas isso ainda depende de regulamentação.
A ampliação da faixa de isenção para até R$ 5.000 é um marco na justiça tributária brasileira. Milhões de trabalhadores e aposentados terão alívio imediato no bolso. Ao mesmo tempo, o governo garante compensação fiscal ao tributar super-ricos e dividendos, sem abrir mão da responsabilidade orçamentária.
Embora existam críticas e desafios, o saldo geral é amplamente positivo: mais renda disponível para a maioria da população, maior progressividade e correção de uma distorção histórica.
Em 2026, quando a medida entrar em vigor, a vida financeira de milhões de brasileiros ficará um pouco mais leve — e o país dará um passo importante rumo a um sistema tributário mais justo.